domingo, 7 de março de 2010

Cyberbullying


Link: http://www.cartanaescola.com.br/edicoes/42/so-nao-vale-nao-fazer-nada/?searchterm=ciberbullying 

Só não vale não fazer nada

por Ricardo Carvalho
As novas tecnologias, quando usadas para caluniar e ferir, podem ser mais cruéis e permanentes do que as ofensas na vida real
A internet tornou-se uma importante ferramenta de pesquisa e interatividade que pode auxiliar o processo de aprendizagem. Entretanto, as novas tecnologias da informação e comunicação propiciaram o surgimento de um fenômeno que é visto por educadores com preocupação, o ciberbullying. Cléo Fante, pesquisadora e autora de livros sobre bullying – expressão que pode ser traduzida como violência física ou psicológica entre alunos – estuda essa prática e a define como a “utilização de ferramentas tecnológicas com o intuito de prejudicar o outro”. Na maioria dos casos, os adolescentes tiram fotos de colegas e as publicam na internet com piadas e humilhações, criam contas falsas de e-mail para espalhar mensagens difamatórias e usam SMS de celulares para intimidar colegas. 

Violência entre alunos não é novidade e é explicada de diversas maneiras. O estudante pode, por exemplo, reproduzir na escola uma dinâmica familiar baseada na violência. “Os meios de comunicação também influenciam esses atos, assim como a sociedade, ao discriminar, em especial, aqueles que são diferentes”, explica Cléo. 

ciberbullying é, portanto, o tratamento violento entre alunos transferido ao mundo digital. A professora da Universidade de Calgary, Qing Li, cunhou a expressão “uma nova garrafa para um vinho velho”. O problema é que a nova garrafa traz uma série de outros fatores: um conteúdo ofensivo publicado na internet tem abrangência maior, não se perde e atinge a vítima em locais fora da escola. Em um dos casos, em São Paulo, foi criada uma comunidade no Orkut em que um estudante de 15 anos era alvo de piadas e ameaças. Os pais souberam do problema oito meses depois, pois o filho havia se afastado dos amigos e tivera o desempenho escolar afetado. A escola foi contatada e o conteúdo, retirado da web. 

Diferente do bullying, em que a violência é física ou verbal, no bullying digital a vítima sofre com agressões morais, como difamação, calúnia e injúria. Cléo relata que as vítimas de ciberbullying tendem a ter queda de autoestima, de concentração e de rendimento escolar, além da sensação de impotência. 

Protegido pelo anonimato 
Um dos fatores que contribuem para a prática do ciberbullying é a sensação de anonimato que a internet proporciona. “Os estudantes acreditam que estão escondidos atrás da tela do computador”, afirma a especialista em direito digital e educação Cristina Sleiman. Entretanto, Cristina esclarece que a sensação, obviamente, é falsa, pois em casos levados a Justiça, uma investigação pode determinar que o provedor forneça os dados para a identificação da máquina que teria originado a agressão. 

No Brasil não há legislação específica para crimes na internet. Porém, o Código Penal prevê punições para atos de calúnia, difamação, injúria ou ameaça, independentemente do meio utilizado. Assim, o ciberbullyingconstitui, para menores de 18 anos, ato infracional, e, se confirmado, o agressor pode ter de prestar serviços comunitários e os pais, indenizarem a vítima. 

Educadores e pesquisadores concordam que o método mais eficiente de prevenir as agressões está na conscientização de alunos, pais e professores. “A orientação é para que os professores observem o comportamento dos alunos quanto ao rendimento escolar e a aspectos psicológicos e sociais. O profissional pode desenvolver grupos de alunos solidários que busquem fazer companhia a jovens vítimas de ciberbullyinge que se sentem excluídos”, diz Cléo Fante. 

Nesse sentido, alguns projetos já mostram resultados. Em 2007, Cristina Sleiman iniciou uma parceria com um colégio particular de São Paulo, onde foi criada a disciplina Ética e Cidadania Digital, que, entre outros temas, aborda no ciberbullying. “Primeiro, realizamos palestras sobre o tema com pais e professores. Depois damos aulas de conscientização aos alunos explicando as questões envolvidas”, relata. 

Outra iniciativa ocorreu na escola Caic Professor Mariano Costa, de Joinville, em Santa Catarina. Desde 2005, a professora Gládis Leal mantém o blog Palavra Aberta, com conteúdo sobre novas tecnologias e educação. A professora seleciona um vídeo e os alunos discutem por meio de comentários o que assistiram. “No ano passado, uma menina da escola teve a senha do Orkut roubada e invadiram seu perfil para colocar informações falsas”, relata. 

Por causa do incidente, o tema da vez foi ciberbullying e segurança na internet. Explicou-se aos alunos como se prevenir de ataques na internet e eles foram instruídos a não compartilhar senhas, a ter cuidado com o tipo de foto que colocam na rede e a não fornecer informações pessoais. Por outro lado, Gládis buscou mostrar as consequências do ciberbullyingpara agressor e vítima. “Alertamos que pode haver um processo e meios de ser punido, além das consequências psicológicas para quem é o alvo.” A professora diz ser difícil coibir a prática. “Tem de haver conversa. O que não pode é a escola se mostrar omissa, porque o cyberbulling não vai deixar de acontecer.” E na sua escola, como o tema é tratado? Lembre-se: discutir o assunto, por mais delicado que seja, é sempre a melhor forma de evitar um problema.

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